quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Autobiografia de um pastor que lê poesia - Parte pois.


Por ser um homem do campo? Porque ainda não saí deste quadrado para outro? Do hall de entrada à sala vai um percurso sinuoso. Mas não. Sinceramente não sei ao certo do que será, mesmo. Percorro vales e montanhas a matutar, e dou comigo a pensar que sou homenzinho para acreditar no Amor. Assim. Com A maiúsculo e tudo. Epa acredito. Acredito que haja várias formas de o entender, acredito até que na década de 40 era uma coisa, no século passado, na idade média ou no tempo dos monumentos megalíticos era tantas outras coisas completamente diferentes daquilo que hoje em dia se diz que é. E ainda assim, acredito que ele existe sob uma determinada forma que se adapta ao seu tempo, ou o seu tempo se adapta a ele. Não sei bem ao certo, sobre isso ainda não pensei muito bem, e do que pensei não cheguei a grande conclusão. Mas acredito que Ele existe. Mesmo nos dias de hoje. Mesmo quando passo serões a ver a actualizações da AutoMortor ou de uma dessas quaisquer rede social, quando vou beber cervejas para a tasca do Jacinto, ou quando vou para um outro qualquer clube conviva onde possa socializar com pessoas enquanto vejo as vistas, bebo uma pinga ou dez, e bato o pé a ouvir a radiofonia local.

Partindo desta pequena premissa que poderá porventura ser explorada com mais exactidão e/ou exaustão ão ão, lanço aqui um desabafo que me tem atormentado as jornadas de pensamentos enquanto levo as cabras ao pastoreio, e que consiste numa outra crença, que alguns consideram ainda mais bizarra que o Amor, que é, e passo a apresentar: a amizade. E isto pode parecer um tanto estupido e out of topic, mas acreditem que é bem mais real e conciso do que muitos julgam.
Acredito piamente que o relacionamento interpessoal entre seres humanos não se restringe apenas às mulheres que um homem gostaria de levar para a cama e tenta a todo o custo que isso aconteça. (E quem diz a todo o custo, refere-se ao CustoJusto.com, que é uma coisa que anda aí muito na moda.) O que eu quero dizer é (e é talvez seja por isso que tenha virado pastor e não taverneiro como a maior parte dos homens aqui do sítio), que existe uma coisa chamada amizade, e que algumas vezes acontece entre pessoas do sexo oposto, e que não temos que querer comer essas pessoas. E por comer entenda-se isso.
Os taverneiros cá do sitio dizem que sou rabeta. Que as conheço a todas e não como nenhuma. Disse-me até um no outro dia que "um homem que vive rodeado de mulheres e não come nenhuma é gay!". E eu fui ver o que é que 'gay' queria dizer no dicionário, e diz ele que é uma espécie de "alegre". Fiquei sem perceber muito bem. Mas não tem que ser necessáriamente uma felicidade. Depende das expectativas que se tem em relação a determinadas pessoas. E já me ensinaram uma vez que expectativas elevadas geralmente geram desilusões, mas isso é outra conversa. O que eu quero no fundo dizer é que há amigas e amigas. Há aquelas que pomos em itálico, há aquelas a que as gentes da cidade chamam de "amigas com beneficios", há as amigas de circunstâncias, e há as amigas amigas. Aquelas a sério. E porventura existirão outras classes sociais e hierarquicas de amigas, há até a amiga do amigo, mas, e falando daquelas que quero retratar aqui, eu gosto muito das minhas amigas a sério, não as quero comer, e às vezes tenho dificuldade em explicar aos meus amigos lá da taverna. Não é um desengate. Não é falta de líbido. Não é ser rabeta nem rabilon nem tantas outras coisas de que sou difamado. É respeitar o lugar que algumas pessoas representam na nossa vida. E há deles também que perguntam às vezes: "ó Josué, e já pensaste que o lugar delas podia ser a ser montadas naquela cama de ferro que herdaste da tua bisavó? a apanhar naquele sitio que elas gostam ou a mamar avidamente à sombra dessa tua pança saliente?", e eu, lembro-me daqueles tempos em que era um rapazola inocente e apaixonado e me diziam: "Josué, és muito especial e gosto muito de ti, mas é como amigo. assim como um irmão.". E nunca dei uma resposta destas a nenhuma. Nunca foi necessário, mas é o que digo aos homens da taverna. É isso que lhes dou como resposta, mas não adianta. Na aldeia não sabem distinguir um rabeta de um romântico.

Josué Silvério

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