quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cobarde acto de vilania

Vague-ei demasiado tempo nesta esta cidade. Dizem que na melhor aldeia está o melhor pedaço e eu acredito, já o vi, já lá estive e cheirei de perto seu corpo limpo, trigueira de olhar doce mas com uma malícia que envergonharia Belzebu, Íncubo de nosso prazer.

Começando pelo principio, das montanhas de onde fugi existe um local banhado de estranha beleza, a caricatura de gentes da terra, talhadas pelos campos de terra ardente e pelos copos de vinho baço, contrasta com caras bonitas, pessoazinnhas sofisticadas, pós-modernas e tendênciosas. 
Mulheres belas, bem vestidas, com pompa, com circustância e acima de tudo de muita inteligência. 
Os homens não tanto, continuam tão agarrados ao chinquilho e às minis bem fresquinhas que se esquecem do quanto as suas mulheres, filhas e irmãs têm desejos a saciar, a serem saciados e dispostas a fazer tudo por isso, esta é uma dessas estórias.

Entrei na aldeia, perdão, vila. Sim, uma vila em pleno matagal, perdida por entre montes e vales, perfumada de eucalipto e vinho maduro, pintada com pequenas casas brancas com risca e beiral à moda alentejana mas pintadas de várias cores diferentes, desde o tradicional azul ao amarelo de fazer desmaiar um canário passando pelo laranja que de tão laranja nos faz parar o fígado, tem infantário, tem escola, centro de saúde, centro de dia, biblioteca, um autocarro urbano, que na realidade é uma carrinha de nove lugares que passa o dia a andar a volta da aldeia, perdão, vila e uma espécie de centro comercial com três lojas e um fontanário seco onde se vende de tudo, um chinês rural.
Parei junto ao coreto e pedi uma mini bem fresquinha que o calor de Agosto tem o habito de ser abrasador por aquelas paragens. Era altura das festas da aldeia, perdão, vila, ainda hoje chamadas assim, embora seja uma vila, embora não saiba porquê.

O artista - como havia chamado o senhor de bigode farto e despenteado que me servira a mini, naquela tabanca improvisada de tábuas secas e algum linóleo podre onde ele próprio se tem tentado embriagar desde que a festa começou. - É um tipo que vem da cidade, e trás umas bailarinas que é uma maravilha!
Mal ele havia reparado que por trás de si está uma bela jovem, menina-mulher, com tudo no sitio, lavada, perfumada, com um vestido branco pelo joelho, meia "soquete" e um sapatinho de verniz vermelho acabado de sair de um conto de fadas, seu corpo, vim a saber mais tarde, era roliço, cheio de curvas sinuosas que adorei percorrer, depilado ao pormenor onde apenas um pequeno tufo de pêlo amigo é o que chega para maravilhar o ser, deusa em pleno sentido, tal como todos sonhámos um dia.

Trocámos olhares pecaminosos junto ao adro da igreja enquanto a procissão saía, uma senhora de alguma idade de olhos penetrantes, embora dotada de uma beleza robusta, ia-me tirando a pinta. O meu aspecto.. alternativo era um pouco exagerado para aquela pequena localidade, na realidade era um estranho que me estava a atirar descaradamente à moçoila mais bela da aldeia, perdão, vila.
Acabada a procissão foi altura da romaria ao bar, vários homens de ar rude barafustavam enquanto aos desaires do clube da aldeia, perdão vila, outros estavam eufóricos com a final do torneio de matraquilhos e a seguir era logo o sorteio do porco, rifado nos dias anteriores, ou durante semanas, não sei, as pessoas da aldeia, perdão vila, são dotadas de uma filantropia um pouco fora do comum.

Eu permaneci encostado ao balcão, na tabanca junto ao coreto, beberriquei umas quantas minis servidas pelo homem de bigode farto e desorganizado, na aldeia, perdão, na vila, não existe coisa exótica como um uísque ou uma aguardente velha, no máximo á bagaceira feita na garagem de um qualquer matarroano, num alambique de cobre em que ao segundo golo estamos cegos que nem uma toupeira. 
Não tirei os olhos de cima dela, estava encostada ao balcão da quermesse e desenrolava rifas juntamente com um par de amigas das quais não tenho memória, a suave brisa de Verão levantava-lhe um pouco o vestido deixando vislumbrar um pouco acima do joelho, como deve ter sido bonito o amor no séc. XIX.
Lançava olhares sedentos na minha direcção, disfarçava mal e com vergonha, aquela mulher de beleza artesã da igreja continuava a vigiar as nossas acções. O contra luz em que se colocava era para além de revelador, nunca entendi se o fazia de propósito ou se não tinha mesmo noção do que fazia e eu, numa alegre antecipação conseguia vislumbrar aquela silhueta de sonho, como um vestido branco, símbolo de pureza e imaculação pode ser tão tentador e libidinoso.

O artista começa a sua actuação, a noite avança e o peso das minis emborcadas alarvemente durante toda a tarde e inicio da noite começa a fazer a sua moça aliado a um jantar revigorante regado com vinho baço, daquele com um pequeno travo a cascabulho, o senhor de bigode farto e desalinhado dança de camisa aberta e manchada pela enormidade do excesso de vários dias. A musica está alta e sem interesse, as bailarinas parecem extraídas de um qualquer filme porno rasca de meados de oitenta, em que a cabeleira cheia de laca apenas rivaliza com a sensualidade da celulite ondulante, acumulada pelos visíveis longos anos de vida, enfim, vida triste para aquele artista, mas era o artista topo de cartaz das festas da aldeia, perdão, vila, desse mesmo ano. Ouve-se um estouro!

A luz vai abaixo, de repente todo o largo do coreto da aldeia, porra, perdão, vila, fica imerso numa forte escuridão, talvez ofuscadas pelo brilho anterior, ou pelo encanto, que aquele artista trazia aquelas pessoas ter sido trocado pela desilusão, nem a mulher de beleza forte nem o homem de bigode farto e desgrenhado deram pela fuga, fugi-mos, eu e ela. Nem foi preciso combinar nada, muito menos premeditar, estava escrito no adro da igreja, estava marcado nas tábuas da tabanca junto ao coreto, destinado na rifa da quermesse.

Rebolámos os dois por um portão aberto um par de ruelas abaixo do largo do coreto, era o pateo de uma casa anónima, onde havia uma pequena casinha de bonecas onde nos conseguimos enfiar, o vestido foi apenas arredado, com as alças na cintura, seus seios, perfeitos, apenas eles não queimados pelo sol, saia subida desvendando agora o puro branco do seu colo aromático, cheiro a rosmaninho. Minhas roupas voaram tal como o tempo. Não consigo precisar quanto estivemos dentro daquela casinha de bonecas, nem quanto estrago a pobre criança descobriu no dia seguinte, apenas sei que nunca o esquecerei nem nunca contarei a niguém, talvez demasiado imoral, até para o maior dos vilões.

Com a mesma pressa com que saímos, voltámos. Já há algum tempo que o fogo de artificio havia cessado e as senhoras de mais idade já estavam todas recolhidas, não sei o que se passou com o artista juntamente com as suas bailarinas duvidosas nem com o seu espetaculo abortado.
Eu de volta á tabanca junto ao coreto, onde agora o homem de bigode farto e sem sentido dormia profundamente com a camisa meio rasgada e com o restante enrolado à volta do tronco, agachei-me, tirei uma mini do frio e saborei-a lentamente, acendi o ultimo Ventil do maço e olhei para queremesse, ainda lá estava ela, era interrogada pela mulher de beleza por delapidar, tinha um ar comprometido mas na sua compleição tinha o ar de satisfação, de libido preenchida e de plena harmonia dos sentidos. Não voltou a olhar para mim a não ser no momento da despedida, enquanto arrastada pela mulher de beleza rude virou-se para trás, olhou-me profundamente nos olhos à procura do fundo da minha alma, deu-lhe um beijo derradeiro quando a encontrou e foi-se embora. Este momento não demorou mais que um segundo mas para mim e para ela, demorou todas as nossas vidas. 

Saí do balcão, comprimentei alegremente todos os homens que ainda resitiam ao tormento de tanta mini, parti, não mais voltei.

Soube anos mais tarde que o homem de bigode farto e honroso era seu pai e que sua mãe era a mulher de beleza sincera, tinha-se casado muito jovem e tentava ser mãe à já alguns anos, seu marido era apenas mais um dos homens que berrava infamias contra outro no torneio de chinquilho que havia acontecido ainda antes da procissão, minutos antes de me ter enconstado aquele balcão humilde junto ao coreto. Tinha ido para casa devidamente embriagado vestindo assim a camisola amarela da bebedeira das festas da aldeia, perdão vila. 

Sei também que em Maio do ano seguinte nasceu uma criança.

Cobarde acto de vilania.







quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Autobiografia de um pastor que lê poesia - Parte pois.


Por ser um homem do campo? Porque ainda não saí deste quadrado para outro? Do hall de entrada à sala vai um percurso sinuoso. Mas não. Sinceramente não sei ao certo do que será, mesmo. Percorro vales e montanhas a matutar, e dou comigo a pensar que sou homenzinho para acreditar no Amor. Assim. Com A maiúsculo e tudo. Epa acredito. Acredito que haja várias formas de o entender, acredito até que na década de 40 era uma coisa, no século passado, na idade média ou no tempo dos monumentos megalíticos era tantas outras coisas completamente diferentes daquilo que hoje em dia se diz que é. E ainda assim, acredito que ele existe sob uma determinada forma que se adapta ao seu tempo, ou o seu tempo se adapta a ele. Não sei bem ao certo, sobre isso ainda não pensei muito bem, e do que pensei não cheguei a grande conclusão. Mas acredito que Ele existe. Mesmo nos dias de hoje. Mesmo quando passo serões a ver a actualizações da AutoMortor ou de uma dessas quaisquer rede social, quando vou beber cervejas para a tasca do Jacinto, ou quando vou para um outro qualquer clube conviva onde possa socializar com pessoas enquanto vejo as vistas, bebo uma pinga ou dez, e bato o pé a ouvir a radiofonia local.

Partindo desta pequena premissa que poderá porventura ser explorada com mais exactidão e/ou exaustão ão ão, lanço aqui um desabafo que me tem atormentado as jornadas de pensamentos enquanto levo as cabras ao pastoreio, e que consiste numa outra crença, que alguns consideram ainda mais bizarra que o Amor, que é, e passo a apresentar: a amizade. E isto pode parecer um tanto estupido e out of topic, mas acreditem que é bem mais real e conciso do que muitos julgam.
Acredito piamente que o relacionamento interpessoal entre seres humanos não se restringe apenas às mulheres que um homem gostaria de levar para a cama e tenta a todo o custo que isso aconteça. (E quem diz a todo o custo, refere-se ao CustoJusto.com, que é uma coisa que anda aí muito na moda.) O que eu quero dizer é (e é talvez seja por isso que tenha virado pastor e não taverneiro como a maior parte dos homens aqui do sítio), que existe uma coisa chamada amizade, e que algumas vezes acontece entre pessoas do sexo oposto, e que não temos que querer comer essas pessoas. E por comer entenda-se isso.
Os taverneiros cá do sitio dizem que sou rabeta. Que as conheço a todas e não como nenhuma. Disse-me até um no outro dia que "um homem que vive rodeado de mulheres e não come nenhuma é gay!". E eu fui ver o que é que 'gay' queria dizer no dicionário, e diz ele que é uma espécie de "alegre". Fiquei sem perceber muito bem. Mas não tem que ser necessáriamente uma felicidade. Depende das expectativas que se tem em relação a determinadas pessoas. E já me ensinaram uma vez que expectativas elevadas geralmente geram desilusões, mas isso é outra conversa. O que eu quero no fundo dizer é que há amigas e amigas. Há aquelas que pomos em itálico, há aquelas a que as gentes da cidade chamam de "amigas com beneficios", há as amigas de circunstâncias, e há as amigas amigas. Aquelas a sério. E porventura existirão outras classes sociais e hierarquicas de amigas, há até a amiga do amigo, mas, e falando daquelas que quero retratar aqui, eu gosto muito das minhas amigas a sério, não as quero comer, e às vezes tenho dificuldade em explicar aos meus amigos lá da taverna. Não é um desengate. Não é falta de líbido. Não é ser rabeta nem rabilon nem tantas outras coisas de que sou difamado. É respeitar o lugar que algumas pessoas representam na nossa vida. E há deles também que perguntam às vezes: "ó Josué, e já pensaste que o lugar delas podia ser a ser montadas naquela cama de ferro que herdaste da tua bisavó? a apanhar naquele sitio que elas gostam ou a mamar avidamente à sombra dessa tua pança saliente?", e eu, lembro-me daqueles tempos em que era um rapazola inocente e apaixonado e me diziam: "Josué, és muito especial e gosto muito de ti, mas é como amigo. assim como um irmão.". E nunca dei uma resposta destas a nenhuma. Nunca foi necessário, mas é o que digo aos homens da taverna. É isso que lhes dou como resposta, mas não adianta. Na aldeia não sabem distinguir um rabeta de um romântico.

Josué Silvério

Autobiografia de um pastor que lê poesia - Parte hmmm.

Pensei em começar todas as minhas dissertações com "No inicio" mas cheguei à conclusão de que, para além de estúpido, facilmente se esgotaria. Ía desta vez dissertar filosoficamente sobre a origem da linguagem, e de seguida sobre a torre de babel, mas o que eu quero mesmo dizer é que fomos dotados de várias formas de comunicação, e, a ausência dela, é ainda e também, uma forma de comunicar. Contudo uma das menos viáveis, eficazes, e arrisco-me a dizer que nalguns casos, inteligentes.
Assim sendo e como há pessoas que interpretam mal determinados comportamentos e preferem virar costas em vez de nos chamar a atenção para o inadequado de um arroto, acabam por não nos darem hipótese de explicar que o vinho tinha gasosa. Ausentam-se ofendidas, desaparecem, e chegam algumas até a não-assim-tão-subtilmente evitar-nos.
Gostava de dizer a algumas dessas gentes que lá porque lhes dei uso ao forno e lhes ofereci sobremesa, isso não quer dizer que lhes quisesse papar a dita, nem fazia intenção que me lambessem a colher.
O desengate por insistência na ausência de comunicação ou de qualquer contacto, pode ser de certo modo eficaz, mas é bem mais simples quando as coisas são ditas com frontalidade, e optando por uma via de comunicação, seja ela qual for, dessa forma, poupamo-nos a telenovelas que um desses canais mexicanos radicados na TVi em horário pré-matinal compraria na certa.
Deus nosso senhor interpelou-nos a meio da construção da torre, mas ofereceu-nos quanto mais não fosse o código binário.

Josué Silvério

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Se quiseres falar eu tiro..

Um tipo gostar de por e tirar não é mau, lamber, sujar carpetes por essas casas pequeninas onde habitam elas, levá-las (lavá-las, obrigatório) para a nossa é sempre um risco, risco que gosto de correr.

A ultima que levei [lavei] ainda me corre no corpo, e quer voltar, mas sei que isso vai dar em merda.
Aprendam que para momentos de amor forte é necessária a saudade, a ausência, e acima de tudo a necessidade.
Por isso não a volto a levar lá.
Vai tentar ficar, vai fazer o pequeno almoço, vai perguntar onde estão os lençóis lavados e quererá saber se pode utilizar a minha pasta de dentes (!!!), não pode.
Vai na volta até já sabes onde estão as toalhas de banho..

Entretanto há toda uma panóplia de mulheres a conhecer, outros sabores que desconheço e vou lá molhar o pincel.

Sorri.