terça-feira, 12 de agosto de 2014

Não sei do isqueiro e perco a cabeça, as voltas incessantes pela sala só rivalizam em quantidade com o fumo que escapa por entre a portada entreaberta. Sente-se cá dentro como se fosse um vómito, como uma vontade enorme de bolsar a espuma acumulada de tanta cerveja bebida em descontrole, e numa aparente normalidade, numa vã esperança de que com o vómito saia também cá para fora a divina intenção dos Homens.
 
Ainda estão marcas de tinto na mesa por limpar, já escondi o resto das provas. Batons, o isqueiro que ainda procuro e roupa lavada na cama. Ficam sempre nódoas profundas quando há um encontro entre vilões.



sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sim, és tu meu amor.

É a ti que culpo pois
preciso de um bode
que espie e doe seu
sangue a bem da minha

sanidade.

A ele o sacrifiquei, em
altar antigo, no nosso
berço de tempos idos,
porventura esquecidos.
Dentro de ti solidão,
travo de um fado em Lá
ou só talvez e apenas:

 maldição -

quando em torrentes
de ventos e amargos
talentos vi em nós,
triste trago, envolta nuvem
de imaculada perfeição. -

A vós hoje abomino tudo.
Como em grande parte
é a saudade que sinto
daquele nós condenado,
das garrafas de tinto
partilhadas em pecado,
deitados naquela cama
onde um dia chamei casa,
na varanda que podia ser
tão mais que um cliché,
memória incompleta,
de uma salvação inútil.

Numa coisa acredita
meu amor, em mim.
tudo mudou, não para
bem
mas
sim
para
pior.