quarta-feira, 26 de junho de 2013

SECRETO


Vejo o mundo daqui do canto do mundo
e algo acontece.
Vejo-te daqui e nada temo em ti
enquanto tudo o que acontece
transforma o canto do meu mundo.
A mais pequena peça, o recôndito escondido,
tu e eu e a nossa própria dança
algures entre os lugares, os ares
são puros ou negros onde tudo acontece
no nosso mundo.
A ver daqui o que o coração sente
cheiro quem me percorre a alma
e tento tocar o mundo urgente.
Daqui tudo pode aparecer ao jantar
da pinga à fome, da fartura ao cheio,
tudo pode ser em segundo depressa.

E nada muda o lugar criado ao amor
exposto ao terror da verdade, assim,
tal qual a conhecemos daqui
deste nosso pequeno mundo mudado.


É contigo que falo.
Malvada solidão traiçoeira
cheia de poeira
levantas-te de nenhures
alva como a estrela
cristalina de aguardente
da terra reviras-te
da água te serves
do calor transformas-te
e à minha mesa vens parar
sempre a acelerar.
Das palavras roubas o valor
e às orelhas capas a atenção,
rasgada a ilusão de ser alguém
com condições de audição.

E o exercício acaba abraçado a ti,
solidão malvada
traição me fazes
despida na minha rua
nua na minha cama.

Olha que o sangue derrama.


Se queres rir, ri
que eu quero chorar
por tudo o que vi
ao sentir o que senti.
Nada é mesmo arte...
O planeta chama-se Marte?
Quem és tu para afirmar?
Quem sou eu para ensinar?
Ainda ando a ensaiar
como na linha pisar
e voltar a ser eu...
Que é do teu amor?
O que fizeste ao sorriso
que inundava a minha água?
Nos olhos vivo o que chorei
e nada mais te direi.
Volta Solidão, perdoo-te,
agora e para sempre
julguei que era diferente
sentir o que vivi.


Mas nada vale a pena sem ti
porque nada existe sem a tua dimensão
sem sequer a ilusão de ser
para além de ti, solidão.
Nem a lua mais cheia te apaga
nem o confronto com a multidão
nem o desejo inconformado
nem o mundo transformado,
tu és tu e ris-te
e eu sou mais eu e choro.

E tudo recomeça como no amor.


\ para todos os pais do nosso pequeno mundo\